Rabo Assado: concorrente do Angu do Gomes no Comida di Buteco 2012
Todos temos preconceitos. Uns
mais graves, outros menos importantes. Uns latentes e inconfessáveis, outros
explícitos e tolos.
Tinha, por exemplo, um amigo que
se recusava a namorar meninas com nomes feios. Dizia que atrapalhava os momentos
mais íntimos. O cara foi coerente e casou com uma Maria.
O meu é parecido, não como pratos
com nomes estranhos. Pode parecer besteira, mas a discriminação me privou de
muito prazer, por muito tempo. E vem de longe.
Carioca de linhagem capixaba, era
torturado todo ano quando me obrigavam a comer moqueca durante as viagens de
férias à terra de meus antepassados. O
prato é uma espécie de ícone na família, todos o adoram, todos o comem, todos o
sabem preparar. E para piorar, meu velho encarna o papel de último guardião da
moqueca perfeita.
Tenho certeza de que minha
aversão começou pelo nome. Antes mesmo de descobrir sua etimologia sombria
vinda dos caldeirões de canibais brasileiros, a própria palavra e sua pronúncia
misturadas ao cheiro forte da iguaria me assombraram na infância.
As coisas não ficavam melhores
quando a viagem tinha como destino Vassouras, terra da Doxinha, a avó do outro
lado. Lá a tensão era ainda maior. Nos almoços festivos serviam sempre
dobradinha, alcunha não mais atrativa que o famoso nome buchada de boi. Como
poderia ter interesse em comer algo chamado buchada (ou dobradinha)?
Se, por um lado, com o tempo tornei-me
mais um adorador de moqueca, por outro, jamais dei o braço a torcer quanto ao
cozido, tenha ele o nome que queiram dar.
Depois, pratos como sarapatel,
pato no tucupi, quebra-queixo, sururu, puxa puxa, grude, maniçoba, sovaco de
cobra, beira seca e sorda, também entraram na lista de rejeitados voluntários,
porque acredito que ninguém pode ser feliz mandando pra dentro coisas com esses
nomes.
Em outros momentos, porém, é o
constrangimento que me impede de saborear iguarias com apelidos toscos.
Para evitar piadas estúpidas, jamais peço pacu assado e rabada em restaurantes.
Aliás, experimentei rabada pela primeira vez esse ano, por conta de um
festival, mas isso é outra história.
E quando penso que talvez tenha
vencido o preconceito, afinal de contas me entreguei aos prazeres da moqueca e da rabada, tomo
uma rasteira. Entro no restaurante, abro o cardápio e começo a me interessar
pelo prato: nhoque... (hum, Adoro massa) de batata baroa... (excelente sabor)
com ragu de... (não, ragu não!).
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