Foto: Portal G17
Uma dúvida que sempre intrigou os
homens no curso da existência, a possibilidade da mulher estar grávida, pode
causar muito mais constrangimento do que se imagina.
É claro que namorados
adolescentes tendem a dramatizar mais o fato que homens casados que, no final
das contas, mesmo passando por situação financeira instável, ou por crise no
relacionamento, sempre tendem a se alegrar com a notícia.
Há também a família e os amigos
bisbilhoteiros, sempre de olho na circunferência da mulher e na abstinência
repentina de álcool.
Não são esses com certa dose de
interesse legítimo, porém, que me interessam. São os desconhecidos, ou quase
desconhecidos que se preocupam com a gestação alheia e que provocam situações inusitadas,
talvez por não poderem questionar diretamente a “mãe”, talvez simplesmente por
se meterem onde não são chamados.
Lembro que lá pelo meio do meu
percurso universitário uma professora provocou histeria na turma. Era uma moça
jovem, meio riponga e tranquila, que chegou à sala de aula fumando (sim,
naquela época todos os professores universitários fumavam dentro da sala de
aula). Foi um alvoroço, virou debate de corredor, acharam um absurdo às raias
de um novo milênio uma mulher grávida fumar, mas ninguém teve coragem de
questioná-la.
Na aula seguinte, a mesma cena: a
professora simpática e sorridente, exibindo um barrigão, com o cigarro nas mãos.
A turma não aguentou. A
representante se convenceu (ou foi convencida pela turma) de que aquilo não
estava certo e de que a professora deveria ser interpelada. Feito o
questionamento, a professora cheia de vergonha esclareceu que não estava
grávida, apenas gostava de tomar uma cervejinha nos finais de semana.
A história deveria parar por aí,
já que não sei a influência que o constrangimento teve na vida da professora, ela
despareceu depois daquele semestre. No entanto, na última semana, voltou como
um raio sobre a minha cabeça.
Dizem que qualquer animal tem a
capacidade natural de aprender com os erros, por isso macaco velho não mete a mão
em cumbuca, ditado que, pelo jeito, não se aplica a mim.
Sentou-se ao meu lado no metrô um
garoto acompanhado da mãe, que ficou em pé. Viajando no som do MP3, somente
depois da segunda estação, percebi que a mãe estava grávida. Gentil como manda
a cartilha, levantei e ofereci o lugar, que ela prontamente recusou. Insisti, “mas
você está grávida, faço questão.” Ao que ela respondeu, “não, eu estou gorda.”
Constrangido, levantei e saltei antes do meu destino, como a professora que
abandonou a faculdade.
Pelo sim, pelo não, a partir de
agora vou esperar que contem a notícia antes de dar os parabéns.
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