Nunca fui aficionado por
super-heróis, mas tenho lá os meus prediletos, dentre os quais nunca figurou o Professor Xavier. Acho perigoso esse
negócio do sujeito poder ler a mente das pessoas e manipular ações e pensamentos.
Mas vá lá, não passa de ficção.
Tudo corria bem nos mundos dos
quadrinhos até deparar com a seguinte capa de revista: Ciência a um passo de
ler o pensamento.
Não quero elaborar um tratado
ético, nem explorar as questões morais e antropológicas que porventura possam
surgir caso algo tão poderoso caia nas mãos de um vilão sanguinário. A notícia
provocou apenas medo.
Ninguém está interessado nas suas
conclusões, na construção de um pensamento livre e racional, e sim no óvulo.
Aquilo que expomos não é necessariamente
o que pensamos em um primeiro momento, mas a junção das sensações e emoções,
filtrada pelas experiências de vida e o conhecimento adquirido que está pronto
para ser dito, escrito, expressado. É o feto pronto para nascer.
Do jeito que as coisas andam, estão
prestes a enterrar a máxima ‘pense antes de falar’. Imagine a confusão. A partir do
momento em que o cientista tenha acesso ao primeiro pensamento as conclusões
serão dele, e não do ‘pensador’.
A minha cabeça, por exemplo,
funciona de forma intercalada. Penso em algo, que é interrompido por outra
coisa, que depois retorna depurado, que se apaga, perde o lugar e, às vezes,
não sai nunca da cachola, fica comigo. Difícil de alguém, diferente de mim,
interpretar.
Não pense que é exagero (sem
querer manipular você), a coisa é tão mais ampla que ao entrar na maior rede
social em atividade na internet a primeira pergunta feita é “no que você está
pensando?” Céus, deixem em paz meus pensamentos! Preocupem-se com minhas
conclusões.
Alguns vão dizer que é bom, é o
começo do fim da mentira (adeus Papai Noel) e do cinismo (adeus humor inglês),
mas quem disse que o mundo prescinde deles? Seria o caos. O que torna o homem especial
são precisamente suas particularidades, dentre as quais a mentira, a omissão, a
covardia e tudo aquilo que taxam de defeito, inclusive.
Só consigo enxergar um lado bom. Antevejo
um excelente negócio para quando os cientistas decretarem o fim do pensamento
livre. Abrir uma fábrica de capacetes iguais aos do Magneto, prometendo salvaguardar a mente de invasões indesejadas
(acho que criar um software de proteção com senha vai ficar para um futuro
longínquo), vai dar um bom dinheiro, pode apostar.
Talvez não seja socialmente adequado andar por aí mostrando para todo mundo que você tem algo a guardar na cabeça, mas, por via das dúvidas, se alguém tiver o telefone do Magnus agradeço.
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