foto dos caras que estão arrebentando diariamente
no Largo da Carioca e no Buraco do Lume.
Arte de graça no Centro do Rio.
Gosto quando encontro por aí
artistas em começo de carreira. Lembram aqueles cuja arte tem por fim a própria
arte.
Não se trata de uma filosofia
utópica que pragueje contra artistas que cobram por seu trabalho. Não acharia
justo o Cony deixar de receber pelo que escreve, talvez merecesse ainda mais do
que já ganhou.
Eu mesmo, colocando meus pés na
literatura, ficarei feliz se meus romances ‘venderem bem’, permitindo alcançar
o estado glorioso de artista brasileiro que vive do que escreve.
Trata-se, apenas, de gosto.
Lembro que algumas das telas que
hoje enchem os bolsos dos leiloeiros da Sotheby’s e da Christie’s valiam miséria
no auge das carreiras dos seus autores. Van Gogh, pelo que me consta, conseguiu
vender apenas uma de suas telas. Nem por isso abandou sua arte, ou desistiu
dela.
O que me entristece é ver bons
artistas corrompidos, como por exemplo, bandas que compõem um primeiro disco
fantástico e se submetem (artisticamente) à ordem do mercado, deixando de
produzir ao longo de suas carreiras boas obras. Deve haver um universo paralelo
onde vagam natimortas centenas de obras primas que nunca foram, ou serão
compostas.
Mas não quero perder tempo com os
maus.
Li, há algumas semanas, no Globo,
a respeito do trabalho do escritor argentino César Aira e fiquei fascinado,
embora jamais tenha lido uma linha do que escreveu. Não é sua obra (ainda), o
que me encanta é o tratamento que o artista dá a ela.
Sua preferência pela prosa curta,
sua preferência por pequenas editoras, sua preferência pelo trabalho quase
artesanal é incrível. A partir daí, o autor trata como arte todo o livro, desde
a capa até as palavras.
Não pense você que não há por
trás disso até mesmo uma estratégia de negócio (o autor nega veementemente).
Pode haver, não sei afirmar. Mas ela não está exposta, não vem à frente como um
letreiro que tapa a vidraça da loja. E não é nem um pouco importante.
Importante para Aira é o conjunto
que é arte. Ele vive dela, mas também para ela.
Minha opção por uma editora
pequena (nova) tem muitas explicações. Desde uma rejeição inicial de editoras
comerciais grandes à opção por fazer um trabalho pessoal, artesanal. Será meu
primeiro livro publicado e poder participar verdadeiramente de todo o processo,
desde a escolha de um artista plástico de minha preferência para fazer a capa
até sabe-se lá o que, seduz e interessa.
Não que eu seja um exemplo, ao
contrário. Exemplo é Aira.
Para mim, funciona mais ou menos
como para uns (outros) argentinos que no último mês se instalaram no Largo da
Carioca e adjacências fazendo um som original, cheio de energia e que tem
juntado grande quantidade de gente no meio do expediente: Se, ou quando a coisa
crescer, que mantenha a mesma aura, o mesmo objetivo. Que continue arte
pela arte.
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