Usamos o carro somente quando
viajamos, um hábito que faz bem ao bolso e mantém um bom nível de serenidade,
já que o trânsito do Rio de Janeiro anda infernal. Usamos o carro com
frequência, já que, pelo menos uma vez por mês, pegamos a estrada em busca de
um lugar onde encontrar uma rede na varanda. Foi assim que, pela sétima vez,
fomos ao Festival da Cachaça de Paraty.
Na primeira vez, no já longínquo
ano de 2006, ficamos maravilhados. Parecia uma quermesse superlativa, com boas
atrações musicais, regionalismo, originalidade, boa pinga, fora o prazer de
passar uns dias numa das cidades mais bonitas do país.
Daquele tempo pra cá, muita coisa
mudou. Desde o público (antes, casais mais velhos em busca de bucolismo. Hoje, a
garotada da ‘pegação’) até a própria estrutura do evento.
Das lembranças que guardo da
festa, o chão coberto por palha de cana e os eventos de música regional que
aconteciam no palco secundário, são as melhores. Não existem mais.
Pensei muito no que teria levado
os organizadores a mudar o perfil do Festival e concluí que a culpa é, também,
dos forasteiros.
O barato de esticar as canelas
numa rede não está entre as pretensões de quem não consegue se livrar da
síndrome de caramujo. Doença que acomete essas pessoas que levam o notebook para
a mesa de café da manhã de um hotel charmoso, porque precisam baixar as fotos
que tiraram na noite anterior e carregar o Facebook.
Num exercício de ficção, tentei
imaginar que legenda a mocinha colocou nas fotos. Não consegui, não é minha
onda. Não conseguiria, naquele lugar, naquele momento, na companhia da minha
mulher, escrever nada que alguém – além de nós dois – merecesse ler. Devo ser mal
ficcionista, ou rabugento.
Mais tarde, escorregando entre as
pedras do centro histórico, fui obrigado a desviar de dezenas de carros com os
vidros pretos de onde saíam terríveis sinfonias no estilo funk/sertanejo/axé,
até descobrir que os grupos de maracatu, choro e samba-de-roda locais, que por
anos animaram os visitantes durante as tardes, foram deixados de lado.
Eu, que viajei para encontrar um
lugar que fosse diferente do que é o meu cotidiano (forçado), não consegui me
sentir a mais de dois quilômetros da Praça Varnhagen.
Ninguém estava (está) interessado
em viver uma experiência diferente, talvez por isso achem sacal caminhar horas por
uma trilha de Trindade e, ao final, sentar na beira da praia para ouvir o ‘reggae’
local.
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