terça-feira, 21 de agosto de 2012

Síndrome de caramujo


Usamos o carro somente quando viajamos, um hábito que faz bem ao bolso e mantém um bom nível de serenidade, já que o trânsito do Rio de Janeiro anda infernal. Usamos o carro com frequência, já que, pelo menos uma vez por mês, pegamos a estrada em busca de um lugar onde encontrar uma rede na varanda. Foi assim que, pela sétima vez, fomos ao Festival da Cachaça de Paraty.

Na primeira vez, no já longínquo ano de 2006, ficamos maravilhados. Parecia uma quermesse superlativa, com boas atrações musicais, regionalismo, originalidade, boa pinga, fora o prazer de passar uns dias numa das cidades mais bonitas do país.

Daquele tempo pra cá, muita coisa mudou. Desde o público (antes, casais mais velhos em busca de bucolismo. Hoje, a garotada da ‘pegação’) até a própria estrutura do evento.

Das lembranças que guardo da festa, o chão coberto por palha de cana e os eventos de música regional que aconteciam no palco secundário, são as melhores. Não existem mais.

Pensei muito no que teria levado os organizadores a mudar o perfil do Festival e concluí que a culpa é, também, dos forasteiros.

O barato de esticar as canelas numa rede não está entre as pretensões de quem não consegue se livrar da síndrome de caramujo. Doença que acomete essas pessoas que levam o notebook para a mesa de café da manhã de um hotel charmoso, porque precisam baixar as fotos que tiraram na noite anterior e carregar o Facebook.

Num exercício de ficção, tentei imaginar que legenda a mocinha colocou nas fotos. Não consegui, não é minha onda. Não conseguiria, naquele lugar, naquele momento, na companhia da minha mulher, escrever nada que alguém – além de nós dois – merecesse ler. Devo ser mal ficcionista, ou rabugento.

Mais tarde, escorregando entre as pedras do centro histórico, fui obrigado a desviar de dezenas de carros com os vidros pretos de onde saíam terríveis sinfonias no estilo funk/sertanejo/axé, até descobrir que os grupos de maracatu, choro e samba-de-roda locais, que por anos animaram os visitantes durante as tardes, foram deixados de lado.

Eu, que viajei para encontrar um lugar que fosse diferente do que é o meu cotidiano (forçado), não consegui me sentir a mais de dois quilômetros da Praça Varnhagen.

Ninguém estava (está) interessado em viver uma experiência diferente, talvez por isso achem sacal caminhar horas por uma trilha de Trindade e, ao final, sentar na beira da praia para ouvir o ‘reggae’ local.

Tudo tem motivação. Não sei a deles. No meu caso, viagens servem para conhecer e absorver novas culturas, aproveitar circunstâncias às quais só terei acesso naquele momento e/ou lugar. Não vejo graça em transformar cada lugar ao qual vou naquilo que sou. Não viajo com a casa nas costas. Do contrário, é melhor ficar na varanda da Tijuca, é menos caro e só divido a mesa do café com minha esposa (filho, cachorro, gatos...).

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