quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Olha a cabeleira...



O maior problema em deixar o cabelo crescer não está na sua cabeça, mas na dos outros. Não há um dia em que alguém não pergunte por que não corto o cabelo. Porque não quero, tem sido a resposta usual.
Minha mãe (sempre elas) chegou ao cúmulo de dizer que estou fazendo esforço para ficar feio, talvez querendo se eximir de responsabilidades genéticas. Uma tia ameaçou andar a postos com uma tesoura para arrancar alguns tufos na primeira oportunidade. Na pelada das quartas-feiras ganhei o apelido de Puyol, menos pela qualidade que pela aparência.
A verdade é que, depois de ‘velho’, decidi cumprir uma meta que aos quinze não tive coragem (saco) de cumprir: Cabelos abaixo dos ombros (cheguei a ter uma franja ridícula que cobria parte do meu rosto). Motivo? Nenhum relevante, mas o assunto tem sido pauta recorrente no meu dia-a-dia.
Encorajado (influenciado, talvez) pela esposa, desde dezembro passado corto o cabelo o mínimo possível – no máximo um centímetro – a cada três meses, sempre nos primeiros dias do quadrante crescente da lua. Meu cabeleireiro (sim, eu tenho um cabeleireiro de estimação) garantiu que essa história de cortar cabelo na fase certa é bobagem, o que vale mesmo é a competência de quem corta. E, de fato, o pelo vem crescendo assustadoramente. O que muito me agrada.
É um novo mundo habitado por cremes, escovas, xampus, óleos, secadores, do qual tinha conhecimento de ouvir dizer, quando muito, espiando a conversa da esposa com as amigas. Não imaginava o trabalho que dá tentar manter a ordem no telhado.
Pior, não imaginava que havia fases, mas elas existem.
Nesse momento vivo entre o meio curto e o meio. Alguma coisa sem definição que não se pode pentear, prender, ou esconder com o boné. Algo horrível para humanos comuns. Pior para quem tem o cabelo um tanto rebelde.
Daí que, nessa manhã, resolvi assistir às Olimpíadas. Minha modalidade favorita (nesses jogos) é o judô. E não é que dele pude extrair muitas soluções criativas para a rebeldia da cabeleira.
As moças do judô tem um problema sério na vida: Praticam uma atividade física altamente viril, enquanto buscam manter algum traço de feminilidade mesmo durante as lutas. Em sua maioria cabeludas, as judocas buscam muitos artifícios para que, entre um Yuko e um Ippon, não sofram aquela dorzinha típica do cabelo da nuca preso (putz, como dói). Juntando as duas necessidades (beleza e proteção) temos um festival de nós, laços, tranças, penteados de dar inveja a produtores de moda.
Tentei transportar alguns daqueles penteados para o meu rosto. No final cheguei a conclusão (para desespero da minha mãe) que prefiro parecer com o Puyol, pelo menos o apelido é menos degradante que o anterior: múmia.

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