Uma das melhores frases que li
esse ano... talvez tenha sido ano passado... enfim, uma das melhores frases que
li recentemente estava no meio de uma coluna da Carol Bensimon, no blog da
Companhia da Letras, e estava prenhe de um sentimento que também tem me
assaltado com frequência, a maior
aleatoriedade a que estamos sujeitos ultimamente está na função shuffle do MP3.
Como não encontrei novamente o
texto, não posso afirmar que tenha sido escrita com essas palavras exatas, mas
o sentimento, ou o pensamento, é esse mesmo. Acabaram-se as surpresas. Melhor,
vivemos em um tempo em que desejamos controlar as surpresas.
Antes mesmo de aprender a lidar
com todas as funções do Iphone 5, já estamos preocupados com as inovações do
seu sucessor. Suspeito que um adolescente da década de 2010 jamais compreenderá
o significado da frase ‘é menino’, dita por um médico após o parto numa cena
clichê de novela dos anos 1980. E mesmo o resultado de uma prova deixou de ser uma
incógnita, em um tempo em que os cadernos de questões são entregues aos
concursandos que, ao colocar o pé na calçada, já descobrem quantas e quais
respostas estavam certas ou erradas. O ‘futuro’ não é mais desconhecido?
No texto, a escritora mencionava
uma cena de filme em que três jovens atravessavam um túnel em um carro conversível
quando de repente (!) começa a tocar no rádio sua música favorita, o que
transformaria aquele momento em algo único, especial, e encerra a discussão,
cenas como essa são cada vez mais improváveis.
Dominar o futuro é um anseio do
homem desde sempre (vide a astrologia, os profetas). Sob a desculpa de evitar
desgraças e construir um futuro melhor, busca-se de toda forma antever o que
vem adiante. Não posso afirmar que esse sentimento move os fanáticos por
aparelhos de telefone celular (sim, eles existem e estão em maior número do que
se pode imaginar), mas certamente hoje estamos menos preparados para surpresas,
para lidar com o incontrolável.
Lembrando que surpresas nem sempre
são positivas, em breve surgirá uma legião de frustrados. Quando descobrirmos
que não é possível por cabresto no porvir sentaremos como enormes bebês
esperneando sem que haja uma mãe universal que nos dê atenção.
Podemos descobrir o que se passa
na cabeça dos gênios da Apple, mas continuaremos sem descobrir (honestamente)
os números da loteria antes do sorteio. Conseguimos descobrir (há quem afirme
até que podemos escolher) o sexo de nossos filhos antes mesmo que saiam de
nossos ventres, mas nunca poderemos adivinhar quando ou como morrerão nossos
pais. Podemos definir a data das férias, mas não somos capazes de prever com
real eficácia se estará chovendo ou se fará sol na mesma semana.
É a graça da vida. Tive a
felicidade de viver momentos ‘únicos’ como o descrito pela Bensimon. Experiências
que se tornaram inesquecíveis não apenas pelo que representavam, mas por culpa
da surpresa da ocasião, e foram necessárias, e continuarão a ser.
Por via das dúvidas, não ligo
mais a função shuffle do MP3, venha o
que tiver de vir.
Musicas que muito, pouco ou quase nada tem a ver com o texto:
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