segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Surpresa!



Uma das melhores frases que li esse ano... talvez tenha sido ano passado... enfim, uma das melhores frases que li recentemente estava no meio de uma coluna da Carol Bensimon, no blog da Companhia da Letras, e estava prenhe de um sentimento que também tem me assaltado com frequência, a maior aleatoriedade a que estamos sujeitos ultimamente está na função shuffle do MP3.

Como não encontrei novamente o texto, não posso afirmar que tenha sido escrita com essas palavras exatas, mas o sentimento, ou o pensamento, é esse mesmo. Acabaram-se as surpresas. Melhor, vivemos em um tempo em que desejamos controlar as surpresas.

Antes mesmo de aprender a lidar com todas as funções do Iphone 5, já estamos preocupados com as inovações do seu sucessor. Suspeito que um adolescente da década de 2010 jamais compreenderá o significado da frase ‘é menino’, dita por um médico após o parto numa cena clichê de novela dos anos 1980. E mesmo o resultado de uma prova deixou de ser uma incógnita, em um tempo em que os cadernos de questões são entregues aos concursandos que, ao colocar o pé na calçada, já descobrem quantas e quais respostas estavam certas ou erradas. O ‘futuro’ não é mais desconhecido?

No texto, a escritora mencionava uma cena de filme em que três jovens atravessavam um túnel em um carro conversível quando de repente (!) começa a tocar no rádio sua música favorita, o que transformaria aquele momento em algo único, especial, e encerra a discussão, cenas como essa são cada vez mais improváveis.

Dominar o futuro é um anseio do homem desde sempre (vide a astrologia, os profetas). Sob a desculpa de evitar desgraças e construir um futuro melhor, busca-se de toda forma antever o que vem adiante. Não posso afirmar que esse sentimento move os fanáticos por aparelhos de telefone celular (sim, eles existem e estão em maior número do que se pode imaginar), mas certamente hoje estamos menos preparados para surpresas, para lidar com o incontrolável.

Lembrando que surpresas nem sempre são positivas, em breve surgirá uma legião de frustrados. Quando descobrirmos que não é possível por cabresto no porvir sentaremos como enormes bebês esperneando sem que haja uma mãe universal que nos dê atenção.

Podemos descobrir o que se passa na cabeça dos gênios da Apple, mas continuaremos sem descobrir (honestamente) os números da loteria antes do sorteio. Conseguimos descobrir (há quem afirme até que podemos escolher) o sexo de nossos filhos antes mesmo que saiam de nossos ventres, mas nunca poderemos adivinhar quando ou como morrerão nossos pais. Podemos definir a data das férias, mas não somos capazes de prever com real eficácia se estará chovendo ou se fará sol na mesma semana.

É a graça da vida. Tive a felicidade de viver momentos ‘únicos’ como o descrito pela Bensimon. Experiências que se tornaram inesquecíveis não apenas pelo que representavam, mas por culpa da surpresa da ocasião, e foram necessárias, e continuarão a ser.

Por via das dúvidas, não ligo mais a função shuffle do MP3, venha o que tiver de vir.


Musicas que muito, pouco ou quase nada tem a ver com o texto:

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