Cinema Paradiso: quase me derrubou.
Meu rosto vermelho e
molhado/é só dos olhos pra fora/todo mundo sabe/que homem não chora*... Mentira. Homem chora, e muito. É
meio embaraçoso admitir, mais ainda revelar o que te faz chorar. É coisa guardada
na cave escura e privada dos segredos inconfessáveis.
Há, no entanto, situações em que o nó na garganta se
transforma em um emaranhado tão grosso e invencível que desagua em ao menos uma
lágrima que escapa pelo canto dos olhos. Constrangimentos à parte, é incrível o
bem estar que surge naquele mesmo instante em que o sal dos olhos toca os
lábios.
Não escrevo sobre situações em que a sociedade espera o choro
de qualquer ser que respira. Nada de morte, ou uma dor física insuportável. Uma
notícia de doença. Coisas tristes. Não é essa emoção que me impulsiona, mas o
conjunto de todas as outras emoções.
A primeira cena que me vem à cabeça são lutadores, atletas,
jogadores de futebol levantando um troféu. Se for brasileiro, pode esperar dele
o pranto da vitória. É atávico, tenha ele a ascendência que tiver. Por essas
bandas costumamos chorar mais diante da vitória que da derrota.
As artes têm, também, papel de
protagonista no chororô da rapaziada. Até pouco tempo me gabava de nunca ter
chorado no cinema, até chegar ao ponto de confessar a minha esposa segredo que
guardava desde os dez anos de idade, quando chorei baixinho ao final de A Missão.
Esse filme, a propósito, é a
junção das duas artes que mais buscam a vitória pela ‘rasteira’ das emoções: o
cinema e a música. Ataca pela visão, pelos ouvidos, pelas surpresas. Ataca o
peito do espectador por todos os lados e com todas as armas. Pois sobre A Missão basta dizer que é uma película
musicada por Ennio Morricone, campeão de nós na garganta com trilhas como as de
Cinema Paradiso e Malèna.
Aos dez anos de idade é mesmo
difícil resistir.
A música pode ser cruel. Algumas
delas têm o poder divino e diabólico de arrancar o indivíduo do chão, lançá-lo o
mais alto e, quando abre os olhos inundados, o marmanjo se dá conta, enfim, de
que chora estimulado pelos motivos mais banais. Ele descobre que sabe chorar.
Conheço uma tropa de sujeitos que
confessaram não poder escutar João Nogueira soprando Espelho. E são tantas outras que gastaria todos os megabytes
disponíveis nesse blog se resolvesse elaborar uma lista curta.
Livros, acredite, podem fazer
chorar, e não estou falando de autoajuda. O final impactante de ‘A Hora da
Estrela’ derruba reputações de brutamontes. Infanto-juvenis costumam ensinar
aos meninos que a sensibilidade não é um atributo exclusivamente feminino.
Não se surpreenda, portanto. O
gol na final do campeonato, a nota que precisava para ingressar na faculdade, o
reencontro com um amigo de quem se tem uma saudade incrível, o primeiro beijo ‘nela’,
um presente inesperado, o convite para o emprego novo, um poema ou o (insuperável)
nascimento do filho (que pode acontecer de tantas formas e tão inesperadamente)
são momentos em que se você for atenta (o) e olhar para o lado descobrirá que nós
choramos sim. Mas, às vezes, precisamos esconder e dizer que foi um cisco, o
que não deixa a lágrima menos salgada.
* Homem não chora - Barão Vermelho.
Lista de músicas que fazem parte da trilha sonora dessa coluna:
Brilhante!
ResponderExcluirO que eu acho engraçado é como a sociedade tem a tendência e mquerer endurecer a gente. Quando somos crianças, temos o "choro na cara", mas não temos tantos motivos para nos emocionar (ou não). Com o passar do tempo, vamos envelhecendo e passamos a entender ao mundo a nossa volta. Admiramos uma boa música, cenas nos tocam, perdemos quem amamos... E é justamente nessa quimera que somos obrigados a conter nossos sentimentos. Ser sensível passa a ser crasso, feio, prova de fraqueza... Pior ainda, chorar por conta de uma música, um filme... Passa a ser chacota...
Vai entender