Ao contrário de muita gente, eu não cuspo no prato em que comi, ou estou comendo. Por isso, antes de tudo, aplaudo o Rock in Rio pela iniciativa de trazer ao mesmo tempo para minha combalida cidade natal uma trupe de bandas, músicos, cantores de alto nível, enfim, um espetáculo da magnitude que o Rio de Janeiro merece.
Aos frustrados ou onças de plantão resta lembrar um pequeno detalhe que talvez não tenham notado, nesses últimos 26 anos: O RiR não é um antecipador de tendências, não é a Mojo, ou um concurso de novas bandas.
Desde o início o festival se lastreou em grandes nomes nacionais e internacionais, artistas consagrados, degradados, ou no auge de suas longas/breves carreiras. Queen, Ozzy, James Taylor, Faith No More, Megadeth, Guns n’ Roses, Iron Maiden, Neil Young, R.E.M., Foo Fighters, Cássia Eller, Barão, Paralamas, Titãs, Ira, Elba & Zé Ramalho.
Nesse ano de 2011 não poderia ser diferente, trouxeram Red Hot (bom show do qual esperava menos), Motörhead, o perfeito Metallica, os esquisitões mascarados do Slipknot, Sir Elton John, Capital Inicial (num show até certo ponto surpreendente – especialmente para alguém que gostava da banda, mas jamais tinha assistido sua atuação ao vivo), Cold Play, System of a Down.
Tem lá seus erros como Carlinhos Brown no dia errado, Lobão no dia errado, Erasmo no dia errado (?), Claudia Leite & Ivete Sangalo (para mim essas duas vão terminar formando uma dupla sertaneja, ou travando uma batalha épica ao estilo Emilinha versus Marlene).
Li alguma coisa a respeito do nome ‘Rock’ induzir as pessoas a erro, marketing mal feito, gato por lebre, mas se Rock é contestação e surpresa não existe nada mais rock n’ roll que colocar a bateria da mangueira no palco do Megadeth (pode ser exagero ou equívoco, mas que é também uma baita coragem, isso é).
Li, também, a respeito do nome Rio limitar as possibilidades da caravana arrumar as malas e zanzar por outras terras. Tudo besteira. Rock in Rio é uma marca, uma forte marca que pode e deve ser levada e esfregada na cara de todo o mundo. Rock não é marca, Rock in Lisboa, seria apenas Rock in Lisboa, sem o apelo óbvio, sem a carga histórica que o maior festival de música do Brasil tem, e é isso que eles querem, seja em Lisboa, seja em Madri, seja em Heikjavick.
E aí vem aquele papo, novamente, de que o RiR está repleto de artistas antigos, ultrapassados, não há nada de novo. Quanto às novidades sugiro aos frustradões ranzinzas que procurem outros meios de buscar tendências, de ouvir coisas novas. Se cansaram (ou nunca gostaram) de Guns n’ Roses façam como eu e não comprem o ingresso.
Não é pelas mãos dos Medina que encontro algo novo, é fuçando na internet, em revistas, lendo artigos, ouvindo rádios de todo o mundo, trocando ideia com amigos. Com sorte e paciência encontrarão pérolas que poderão pendurar no pescoço, exibindo seu ‘incrível dom de descobrir o novo’, como amigos meus da adolescência que escutavam novas bandas e selecionavam os colegas para quem emprestariam as fitas cassete para cópias, só para manter a banda conhecida apenas no ‘circuito’.
Foi assim, meio Off Rio que eu (quem sou eu?!?) descobri valores dos quais jamais teria notícia se ficasse esperando o Robertão (e a Robertinha) contratá-los para o RiR dois mil e quinhentos. Lendo Wisnik, Bloch, Vianna e Dapieve, no Globo. Lendo ocasionalmente Billboard e RollingStone, fuçando postagens despretensiosas de amigos no FB, catando migalhas no Youtube, ouvindo rádio ‘gringa’ na internet e por aí vai.
Foi dessa forma, fora do ‘circuitão’ de evetos e shows que tomei conhecimento de Radiohead, Strokes, Melody Gardot, Madeleine Peroux, John Grant, Beirut, Arctic Monkeys, e que maravilha é ler alguém escrevendo em um canto qualquer da internet sobre o novo indie da hora em Nova York e correr para a primeira caixa de som de onde brote a psicodelia milimetrada de Darwin Deez; é o primeiro beijo, cara.
Fantástico é descobrir que existe uma gringa de voz deliciosa que compôs seu primeiro disco de letras e melodias irretocáveis em uma cama, enquanto convalescia de um acidente. E que disco!!! E que voz tem Melody Gardot!!! Ou ler o Dapi (licença empolgada para intimidade que não existe, na medida em que na nossa relação somente eu o conheço) dando uma de pombo correio e trazendo direto da Mojo o que está começando a se erigir nos becos de Londres ou NY, ou no underground de Berlim, Barcelona, México, Sofia, sei lá.
Já não me lembro como conheci a maioria das bandas ou artistas que mencionei, muitos foram por acaso, mas tenho certeza que nenhum deles chegou até mim por intermédio de um grande festival de música. Nâo espere das coisas o que elas jamais lhe darão e não haverá frustração. Há certamente muita coisa nova pronta para ser descoberta por aí, mas, no final das contas, tendência se encontra na granja, onde se cria frangos. Telhado é lugar de galo com franja.