quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Radicais livres

Foto de David Michael Kennedy
 
 
Ninguém quer estar em cima do muro, parece errado; feio mesmo. Dizem que preferem a sinceridade, “prefiro quem diz o que pensa”, “odeio falsidade”. Mas quem está preparado para a franqueza alheia? Poucos. Corrigindo, quem está pronto para admitir que outras pessoas tenham outras opiniões, concorde-se ou não com elas? E são coisas distintas, ouvir outra opinião e concordar com ela. Mas tendem a confundi-las.
Opinião livre é um direito, quase uma necessidade do homem que evolui. Nasce quase planta que emite sons, puro instinto. Cresce, ouvindo e buscando compreender o que existe ao redor. Estabelece-se quando aprende a depurar o que viu e a transformá-lo em algo novo: sua opinião. Aí, ingressa verdadeiramente na sociedade. Ter opinião, portanto, é o destino natural de todo homem que desenvolve a capacidade cognitiva.
Alguns optam por expressá-la (ainda que pela omissão), outros por reprimi-la (esses são os tais que ficam em cima do muro, deles não me ocuparei). Seja em que contexto for, a primeira opção me parece ser a mais correta, desde que o indivíduo identifique o momento e o modo adequados.
A opinião possui leis próprias. Quando passa à expressão livre, a primeira regra que se impõe é a reação. Sempre haverá entendimento oposto (ou diferente e não necessariamente oposto) vagando no ar. Aquele que não aceita a oposição se iguala àquele que não aceita opiniões, ambos os temíveis radicais.
A tenacidade é uma qualidade indiscutível, e manter a convicção amparado seja no conhecimento, seja no sentimento/ instinto, não pode ser considerado por si só intransigência. Nesse processo evolutivo, contudo,  o grande passo é aprender a conviver com a tese contrária (quando não, mudar de opinião).
Há, nesse ponto, um estado de liberdade o qual os radicais não alcançarão (enquanto forem radicais), que toda intolerância é uma grade que se põe entre os intolerantes e o resto. Confinados em sua cabeça (espaço pequeno), restritos ao alimento que encontrarem por ali, definharão sozinhos. A solidão é o que lhes aguarda e a pena merecida.
Não é raro, contudo, vê-los em bandos, especialmente em terrenos férteis como a política e a religião. Não se iluda, sua união é uma miragem. Seu objetivo não vai além da defesa do radicalismo em si. No final, terminarão invariavelmente separados pela própria incomplacência.
Por outro lado, a liberdade é coisa simples de ser alcançada. Um passo para o lado, pra fora das próprias convicções, é capaz de abrir a cela dos radicais, que nesse instante receberão outro nome, libertos por si mesmos.
E concorde você, ou não, isso é só a minha opinião.
 
Trilha sonora: Opinião - Zé Kéti.


Um comentário: