Tem uma coisa de Teletubbies nessa
zoeira de fim de mundo programado que me agrada. Seria bom se sempre
soubéssemos a data exata do fim. Do fim de qualquer coisa.
Preocupa (será?) a possibilidade
de na próxima sexta-feira o mundo seguir adiante, mas um bando de malucos sair
matando gente por aí, sair engravidando, sair se endividando. Por mais que pensem
ser exagero, pode crer, o sábado promete as manchetes mais toscas do milênio. E
é disso que eu estava falando no parágrafo anterior, isso que me agrada.
Pensando como loucos, ou
irresponsáveis, as pessoas acabam vivendo como deveriam viver. Bom, não sei se como
deveriam viver, mas vivem melhor, sem grandes planos, que as coisas boas
acontecem quase sempre naturalmente.
Não quero fazer apologia do
descompromisso, viver sem grandes planos não significa ser irresponsável. É que
eu vejo as pessoas gastando tanto tempo com os planos, pensando no que vai ser
quando chegar ao objetivo, que não aproveitam todo o resto, que é na verdade a
vida.
E aí, vem de novo aquela ideia do
fim do mundo programado, todo mundo fazendo o que der na telha (soube de um
caso verdadeiro de empréstimo vultoso fiado no apocalipse), aquilo que reprimia
por conveniência ou insegurança, e que explode apoiado na única certeza da
semana: o mundo vai acabar.
Ora bolas, a única certeza que temos
desde que levamos a palmada na maternidade é a de que o mundo, um dia, vai
acabar para nós. Vá lá, talvez seja a novidade do fim coletivo, não vou
sozinho, vamos todos lotar o barco. Mas, no fim não faz diferença, um dia ele
acaba mesmo, e nós gastamos o tempo sem pensar nisso, fazendo grandes planos,
sonhando.
Pense, então, na possibilidade de
saber a data exata do término de um namoro, da morte da sua mãe, do dia em que
você vai ficar rico, ou pobre. Pense em como seria sua vida se você soubesse o
dia exato em que coisas sobre as quais você não tem controle vão acabar, ou
começar, ou acontecer. Nas coisas incríveis que faria, no tempo que passaria ao
lado da pessoa, no valor que daria a cada momento.
Essa deveria ser sua vida normal.
Não é fácil, eu também não sou assim, e acho que
não passarei a ser se o mundo continuar a girar no sábado. Na verdade, essa crônica
foi só uma maneira de gastar o tempo fazendo o que mais gosto, vai que...
Minha música favorita de fim de mundo: it´s the end of the world as we know it - R.E.M.
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