Todos chegam até aqui reclamando e agradecendo ao mesmo tempo. As recordações
pipocam nas time lines, tanto quanto
promessas são sopradas na beira do mar. Fim de ano é sempre igual, o que é bom.
Há pessoas que não se importam muito com a data, não há muito com que se importar de fato. Trata-se apenas de um rito de passagem. Se você é
daqueles que só pensa na festa pela festa, hoje é o dia de ser feliz.
Já eu, em se tratando de Ano Novo, sou clichê. Sempre
relembro fatos importantes e tento fazer as contas pra descobrir se o saldo é
positivo ou negativo. Depois, traço as metas do ano seguinte, sempre muito
acima das minhas capacidades, mas tenho fé. No final, na grande virada, lanço
as promessas (resoluções, se preferir) no ar.
Em 2014 consegui cumprir uma promessa de réveillon que fazia
há dez anos e já são seis meses sem mandar fumaça pros pulmões. Um ponto
positivo. Em 2014, no entanto, fui demitido pela primeira vez na vida. Ninguém é
perfeito, muito menos um ano.
Insisto, esperar que tudo corra às mil maravilhas é lutar contra a
natureza, contra a vida, que é maravilhosa, mas termina na morte. Nem a vida é
perfeita, que dirá um ano.
O ano bom é aquele que atravessamos ao lado de quem amamos,
ou, quando essa pessoa não está mais ao nosso lado, ao menos as boas lembranças
da sua importante presença nos inundam no dia 31 de dezembro.
Ano bom se mede pelo grau de amizade, palavra que nunca rima
com quantidade.
Ano bom não é necessariamente aquele em que seus sonhos se
realizaram, mas aquele em que você conseguiu voltar a sonhar.
Em 2014 lancei meu primeiro livro, comprei uma bateria,
voltei para o Jiu-Jitsu depois de 18 anos, parei de fumar depois de 22 anos,
viajei duas vezes por mês, conheci São Thomé das Letras, aprendi a fazer
cerveja em casa, toquei em uma banda com meu filho, ganhei leitores novos,
participei de minha primeira feira literária como palestrante, amei, amei,
amei.
No outro lado da balança, perdi emprego, meu time não ganhou nenhum
título relevante, deixei de trabalhar com pessoas muito agradáveis, perdi
amigos que não eram amigos, meu candidato perdeu a eleição, vendi menos livros do que gostaria, chorei
escondido algumas vezes esmagado pela saudade do meu pai.
No final das contas posso dizer que tive um ano bom.
Não lembro a cor da camisa que usei na virada de 2013 para
2014. Supersticioso como sou, deveria. Mas, quer saber? O mundo atual está
precisando de um pouco de imprevisibilidade e que 2015 seja o que tiver de ser.
Avisei no início da crônica que sou clichê nessa data, tentei
evitar ao máximo pra não provocar indigestão. Já que não consegui, para
encerrar em nível máximo do lugar comum, sugiro que escutem esse samba, na hora da virada.
Feliz 2015!