Tenho escrito muito sobre
saudade. Lembranças da infância, do meu pai, das cosias boas que vivi. Pode ser
o avanço da idade. A maturidade se aproxima e percebi, enfim, que não sou mais
adolescente. Meu filho fez vinte anos, está na hora de me tornar adulto.
No momento em que decidi mudar o
tom, abraçar o carnaval e escrever sobre o futuro, sobre festas, a alegria da
vida, chega a notícia: um amigo de infância morreu aos 36 anos. Triste notícia.
Quando alguém tão novo morre é comum
nos perguntarmos o porquê; qual o sentido? Nessa hora, é curioso notar, também, que
o questionamento que a humanidade julga como essencial é justamente a respeito do
sentido da vida.
Nunca me debrucei sobre essas perguntas.
Tampouco busquei, para elas, respostas na filosofia, literatura, religião,
matemática, futebol, samba e roquenrou. Depois que o Rafael morreu, no entanto,
tenho pensado no assunto.
Parece-me que a única resposta
viável é que o sentido da vida é a própria vida. É dar objetivo à existência.
Viver da melhor forma possível até que a chama piloto se apague de vez (para
além de questões meramente religiosas).
Pessoas preferem viver em contato
com a natureza, pessoas preferem ir a estádios de futebol, pessoas preferem
escrever livros, pessoas preferem dedicar a vida a causas humanitárias, à causa
animal, ambiental, política. Essa devoção é o caminho e quem vive aquilo que
ama já encontrou o próprio significado.
Macaco Prego nas Paineiras: Foto de Rafael P. Brandão que compartilhei na minha time line do Facebook
Não pretendia fazer dessa crônica
um epitáfio, mas depois de chegar a essa conclusão e assistir às muitas
homenagens prestadas ao amigo morto, rever as centenas de fotografias que ele
produziu nas dezenas de viagens que fez pelo país buscando precisamente o
melhor registro do lugar mais bonito que pudesse visitar, sou forçado a
concluir que, antes de mim, ele já havia encontrado a resposta. Ele sabia viver
e estava apreciando cada momento.
Não à toa, na última vez em que
estivemos pessoalmente juntos (nos encontramos por acaso no metrô), ele veio em
minha direção e eu estendi a mão. Como era de sua índole, ele sorriu e preferiu
abrir os braços. Em seguida, veio um abraço apertado, coisa de quem está
satisfeito, realizado. Coisa de gente feliz e que ama.
Já, quanto ao questionamento naturalmente
indignado de quem vê alguém assim deixar a vida precocemente e que deu origem a
essa crônica, a única resposta viável é que se trata da exata oposição. A interrupção
da vida é a ausência de sentido (para além das questões meramente religiosas,
que fique claro), é a ausência de respostas. A vida, uma página em branco; a morte, a página
que falta.
E o que resta mesmo é a saudade,
e que saudade!